COMO O ENEM LIDA COM A TRANSEXUALIDADE ?

Sou um homem transexual, tenho 20 anos, nasci em Poá -SP e fiz o ENEM pela primeira vez esse ano. Na hora da inscrição do Enem fui obrigado a colocar meu nome morto porque não havia a opção de colocar ao lado o meu nome social, achei esquisito mas não vi nenhuma informação em relação a inclusão de pessoas trans.

Com todas minhas expectativas e nervosismo para prova como qualquer candidato eu estava para o primeiro dia de ENEM, semana passada (3/11) eu cheguei com meu rg do nome morto mas expliquei que era um homem transexual e pedi gentilmente que na hora da chamada me chamassem do meu nome social, porém me levaram até a diretoria e a “responsável” me disse que não poderia me chamar pelo nome social porque eu não tinha solicitado em uma (DATA ESPECÍFICA NA QUAL ELES NÃO DIVULGAM) e prosseguiu com a barbaridade e insensibilidade que eu iria ser chamado no feminino e do meu nome morto sim e ainda me aplicou uma ocorrência por estar com rg da minha infância, pois não estava com o ‘’atual do nome morto’’ pois eu retifiquei recentemente.

Tive que passar o pesadelo de uma pessoa trans! Ser chamado do nome morto e ainda em público, na chamada fiz questão de corrigir o meu nome e ainda fizeram caretas e debocharam de mim. Esse foi só o primeiro dia.

Hoje (10) eu fui direcionado a diretoria novamente mas dessa vez a responsável me disse barbaridades que a Transexualidade ‘’surgiu agora’’ e que eu não poderia usar o banheiro masculino porque eu estava registrado como o nome morto e eu disse que eu usei o banheiro masculino semana passada e ela me respondeu ‘’Ninguém sabia o que você era ainda’’ e seguiu dizendo ‘’Aqui você não pode ser tratada no masculino porque é contra a lei’’ e eu rebati. Mais uma vez, eu me senti humilhado. Logo no ENEM que para muitos o nervosismo é direcionado a essa prova que decide o rumo dos nossos próximos anos e carreiras, para mim tinha que ter preocupações a mais porquê? Só por ser trans?

Sai chorando nos dois dias e durante a prova me senti um lixo, fui tratado da pior maneira possível para fazer uma prova desgastante e sabe o pior de tudo isso? Nada vai ser feito, não há justiça para nós e precisa ter. Precisa ter o nome social ao lado do nome morto, precisa ter leis que asseguram nosso direito de existir com tranquilidade.

Nenhuma pessoa cisgênero daquele lugar não tinha ideia do quão constrangedor e sozinho me senti naquele lugar, foram seis horas de prova e eu só conseguia pensar em sair dali, me senti sufocado.

É assim que eu como transexual me sinto e imagino que muitos outros também não sabiam dessa data, passaram pelo mesmo ou até pior e estão tristes e abalados, eu espero que algum dia a transexualidade não seja vista como algo fora da realidade porque nós existimos e resistimos!

-Edgard Gustavo, 20 anos.

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